terça-feira, 30 de setembro de 2014

Fogo destruiu contratos de câmbio de Youssef, doleiro da quadrilha Lula-Dilma


Ricardo Brandt e Fausto MacedoO Estado de São Paulo


Citibank comunicou no dia à Justiça que incêndio ocorreu em 2011; só 8 dos 93 contratos originais da Labogen com o banco foram encontrados;



Documentos originais de contratos de câmbio feitos pelo Labogen S.A Química Fina e Biotecnologia, laboratório controlado por Alberto Youssef, com o Citibank S.A., para remessa de US$ 11,6 milhões de dólares ao exterior foram destruídos em um incêndio. A informação foi anexada aos processos da Operação Lava Jato, na Justiça Federal do Paraná, que investiga desvios de recursos da Petrobrás, por meio de uma rede de colarinho branco coordenada pelo doleiro, em parceria com o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa.
O esquema usava empresas de fachada no Brasil e fora, especialmente em Hong Kong, para fazer importações fictícias e assim legalizar o dinheiro de caixa 2, mandando os recursos para o exterior e assim ocultando e dissimulando sua verdadeira origem e propriedade – prática de lavagem de dinheiro.
“Em razão de incêndio ocorrido em 4 de julho de 2011 nas instalações da empresa Interlfile, empresa responsável pela guarda e armazenamento de documentos do grupo Citibank do Brasil, não foi possível disponibilizar as cópias assinadas dos contratos de câmbio”, informou a instituição, em documento anexado ao processo da Lava Jato, na segunda-feira, dia 15 de setembro.
O incêndio mencionado ocorreu de fato no dia 4 na empresa Interfile, localizada em Jandira (SP). Na época, chegou-se a investigar se o incêndio teria sido criminoso. Os 93 contratos de câmbio, assinados com o Citibank, totalizando US$ 11,6 bilhões, foram feitos entre 28 de julho de 2010 e 10 de janeiro de 2011 – menos de seis meses.
Os documentos originais foram solicitados pelo juiz federal Sérgio Moro, para que peritos façam o cruzamento dos dados de contas de empresas offshore no exterior com as de contas no Brasil e balanços contábeis do doleiro já faziam parte dos processos.
Os alvos foram as contas da Labogen S.A. Química Fina, da Indústria e Comércio de Medicamentos Labogen (que tem outro CNPJ) e a Piroquímica Comercial Ltda. – todas controladas e usadas por Youssef para fazer a remessa do dinheiro para fora do Brasil.
As empresas estão em nome ou eram representadas pelos irmãos Leonardo e Leandro Meirelles, réus na Lava Jato. Eles tinham também outras duas empresas abertas em Hong Kong, para receber e movimentar o dinheiro fora do Brasil, a RFY e a DGX.
Em seu depoimento à Justiça do Paraná, Leonardo – que segundo a PF atua também como doleiro – admitiu que as importações que justificavam os contratos de câmbio no Brasil eram fictícias e que a RFY e a DGX eram offshores que tinham contas no Stardart Charter e no HSBC, em Hong Kong, usadas somente para movimentação do dinheiro.
“Essas duas empresas são minhas. Então eu pagava a importação para essa empresa no exterior e de lá eu repagava para quem ele indicasse, na verdade”, explicou Meirelles, em depoimento. “Indicasse quem?”, perguntou o juiz federal. “O Alberto Youssef indicasse para quem pagar. Essa terceira parte eu não sei para quem”, respondeu o réu.
Youssef e os irmãos Meirelles são acusados por movimentarem ao todo US$ 75 milhões por meio de 1.945 contratos de câmbio por meio da Labogen Químia e outros US$ 38 milhões por 651 operações pela Indústria e Comércio de Medicamentos Labogen.
Outros bancos como Itaú e Bradesco já enviaram os contratos originais, bem como as corretoras, como Pioneer, usada por Youssef. No caso do Citibank, foram identificados apenas contratos com a Labogen Química Fina. Com exceção de oito originais já localizados, o banco comunicou que todo resto foi perdido, mas anexou cópias dos extratos internos e uma planilha.
O material confirma que Youssef mandou para fora do Brasil pela Labogen Química, via Citibank, US$ 11 milhões que foram parar em contas de empresas offshores de Hong Kong, China, Shanguai, Uruguai, Ilhas Cayman e Suíça, entre outras.
Uma das principais beneficiárias é uma conta da JFAJM Import e Export Ltd, no HSBC de Hong Kong. O Agricultural Bank of China é outro muito usado. A identificação de onde foi parar o dinheiro a partir dessas offshores é que busca a PF para que a Justiça feche o circuito do dinheiro lavado por Youssef e identifique os verdadeiros beneficiários dos recursos desviado da Petrobrás.
Os contratos e notas frias de serviços nunca prestados ou vendas superfaturadas para grandes empresas contratadas da estatal, emitidos pela lavanderia de Youssef, já estão com o juiz Sérgio Moro, bem como os documentos de entrada no mercado financeiro legal desses recursos e de remessas para o exterior, por meio das importações fictícias.
Extravio. O incidente envolvendo os contratos da Labogen não foi o único  envolvendo o laboratório.  COmo revelou o Estado, um mês antes do estouro da Operação Lava Jato, o laboratório Labogen  divulgou anúncio em jornais da região de Indaiatuba, onde fica sua sede, informando o sumiço de dez livros contábeis da empresa.
REPRODUCAO JORNAL
A nota endereçada “ao mercado em geral, para os devidos fins” foi publicada no dia 18 de fevereiro na cidade do interior de São Paulo. Sob o título “Comunicado de extravio de livros”, o laboratório, registrado com o nome Labogen S/A Química Fina e Biotecnologia, destaca que naquela data foi constatado o extravio dos livros da companhia – documentos que incluem atas de assembleias gerais, registro de ações nominativas e livros razão (agrupamento de anotações contábeis).
COM A PALAVRA, O BANCO
O Citibank informou que as cópias assinadas de oito contratos de câmbio (de números 10097825, 10099855, 10112168, 10117896, 10117900, 10119310,10119429, 10119430) foram localizadas e foram encaminhadas e que as demais apresentadas “correspondem fielmente aos contratos de câmbio celebrados com a Labogen”.
COM A PALAVRA, A INTERFILE
A empresa informou que não poderia fornecer as informações sobre os documentos do banco que teriam sido destruídos e não deu detalhes sobre o incêndio.