BOGOTÁ - Um país de imigrantes que agora emigram, a Venezuela foi durante anos o país mais próspero da vizinhança, mas o chavismo provocou um êxodo que coloca à prova as políticas migratórias da América Latina.
“O processo migratório venezuelano começou com este governo há 18 anos”, disse Tomás Páez Bravo, professor da Universidade Central da Venezuela e autor de um estudo La Voz de La Diáspora Venezolana. “Nos últimos anos, vem ocorrendo o que chamaria de onda do desespero, que atinge todos os setores sociais”, acrescentou.
A “Venezuela Saudita”, como se apelidou o país por sua bonança petrolífera, estava acostumada a acolher estrangeiros em busca de oportunidades e contava com amplas comunidades de espanhóis, italianos ou portugueses, além de ser refúgio de latino-americanos que fugiam das ditaduras. “Em torno de 15% da população vinha de outros países na década de 60, ao passo que agora cerca de 2 milhões de venezuelanos emigraram desde que Hugo Chávez chegou ao poder, em 1999”, diz Páez.
Filhos e netos de imigrantes representam quase 40% dos que partiram. Em um exemplo revelador, Portugal indicou ter um plano para retirar quase 1 milhão de cidadãos caso o conflito venezuelano descambe para uma guerra civil.
Há registros de migrantes venezuelanos que chegaram por terra e mar a 90 países. EUA, Espanha e Colômbia são os principais receptores, mas o fluxo já é sentido em todo o continente. Além de fronteiras terrestres com Colômbia e Brasil, a imprensa internacional tem publicado histórias de “balseros” venezuelanos que se lançam ao mar para chegar a Aruba e Curaçau.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicitou aos países-membros que recorram a mecanismos migratórios, como os vistos humanitários, ao passo que o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, expediu uma autorização temporária humanitária e propôs um fundo comum em caso de uma crise nas fronteiras da Venezuela.
A vida dos venezuelanos em Roraima
Essa debandada deve aumentar. Segundo estudo da empresa Datos, 20% das pessoas questionadas disseram, em dezembro de 2015, que querem sair da Venezuela nos próximos 12 meses.