terça-feira, 19 de setembro de 2017

Se necessário, não evitaremos destruir a Coreia do Norte, diz Trump na ONU

O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa na 72ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York Foto: TIMOTHY A. CLARY / AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa na 72ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York - TIMOTHY A. CLARY / AFP
Com O Globo e agências internacionais



NOVA YORK — Em seu discurso na 72ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente dos EUA, Donald Trump, adotou um duro tom para ameaçar a Coreia do Norte, dizendo que poderia aniquilar completamente o país asiático se não vir alternativa. 

Além disso, condenou nações que apoiam o regime de Pyongyang com fornecimento financeiro ou de armas, num pedido para que a comunidade internacional se una para isolá-lo. Chamando o líder norte-coreano Kim Jong-un de "Homem Foguete" — no mesmo apelido de deboche que já usara nas últimas semanas —, disse que o único futuro possível é a desnuclearização para a Coreia do Norte .

— O desenvolvimento inconsequente pela Coreia do Norte de armas nucleares e mísseis balísticos ameaça o mundo todo — disse. — Os EUA têm grande força e paciência, mas se for forçado a defender a si mesmo ou a seus aliados, não teremos alternativa a não ser aniquilar completamente a Coreia do Norte. É hora de a Coreia do Norte perceber que a desnuclearização é o único futuro aceitável.

Trump ainda agradeceu a China e Rússia pelos votos em favor de um novo pacote de sanções contra os norte-coreanos no Conselho de Segurança da ONU. E, em tom nada diplomático, voltou a debochar de Kim:

— O Homem Foguete está numa missão suicida para ele e seu regime — disse Trump.

Em seu discurso, também criticou duramente o acordo nuclear do Irã, a que chamou de "um embaraço para os EUA", e sinalizou que o tratado não deverá ser revalidado. Pediu que o governo iraniano liberte cidadãos americanos e de outros países injustamente presos.


LUTA CONTRA O TERROR E VENEZUELA

Trump pediu apoio à luta contra o terror e disse que os países deveriam expulsar os terroristas — a quem chamou de "perdedores" — de seus territórios. O presidente afirmou que em oito meses de governo realizou mais ações contra o Estado Islâmico do que o governo anterior de Barack Obama. Também defendeu uma solução política na Síria e no Iraque.

— Os EUA e seus aliados vão esmagar os "terroristas perdedores" e parar o crescimento do terror.

O presidente relembrou o ataque químico em abril na Síria e acusou o regime de Bashar al-Assad de atacar seu próprio povo. Trump ainda afirmou que foi por isso que os EUA atacaram uma base aérea síria, por ter lançado gás químico contra a cidade rebelde de Khan Sheikhun.

Trump também criticou fortemente o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que, segundo ele, lutou contra seu próprio povo e tomou o poder daqueles que foram eleitos, se referindo à Assembleia Constituinte em vigor no país, que ocupou o lugar do Parlamento. O presidente americano foi aplaudido quando defendeu a volta da democracia na Venezuela.

— Não podemos esperar e assistir. Como um vizinho responsável e amigo, meu objetivo é reconquistar a liberdade, recuperar o país e reestabelecer a democracia. Agradeço aos países que condenaram o regime e apoiam os venezuelanos.


'EUA PRIMEIRO' EM ENCONTRO GLOBAL

Logo no início do pronunciamento, o republicano também defendeu seu lema de campanha "EUA primeiro", dizendo que seu país não mais fará parte de acordos que não o beneficiem ou permitam que outras nações levem vantagens sobre os EUA. Mais uma vez, repetiu que os EUA arcam com despesas demais das Nações Unidas sem retorno.

Há oito meses no poder, esta é a primeira vez que o republicano participa da cúpula internacional, após já ter feito repetidas críticas à ONU. Ao longo da maratona diplomática desta semana, Trump deverá ser confrontado com os mesmos temas espinhosos que citou no seu discurso, como a ameaça nuclear da Coreia do Norte e as tensas relações com o Irã.

O chefe da Casa Branca se pronunciou após o presidente do Brasil, Michel Temer, que abriu a sessão, seguindo a tradição da assembleia. Muitos líderes internacionais, preocupados com as atuais prioridades do governo americano e com o seu papel no mundo, terão sua primeira chance de ouvir pessoalmente Trump ou reunir-se com ele.

O discurso de Trump marca sua tentativa de expor sua visão "EUA primeiro", defendendo que a política externa norte-americana foque na redução das burocracias globais, baseando alianças em interesses compartilhados. Ontem, o presidente já havia adotado um tom crítico às Nações Unidas, pedindo uma reforma na organização que traga mais resultados. Em diversas ocasiões, o atual presidente não escondeu seu forte criticismo à organização e, durante a sua campanha, disse que este era "um clube para que as pessoas se reúnam, conversem e passem o tempo".

Embora tenha tido palmas mais contidas no começo de seu discurso, Trump recebeu aplausos espontâneos quando disse que, assim como ele defende o "EUA primeiro", cada país tinha que defender seus povos em primeiro lugar. Porém, o presidente foi muito menos aplaudido do que era Obama, geralmente. Seu discurso durou exatos 41 minutos.


TEMER NA MARATONA DIPLOMÁTICA

Nesta manhã, também falará o presidente da França, Emmanuel Macron, num pronunciamento aguardado pela comunidade internacional. A expectativa é que ele, assim como Trump, adote um tom forte sobre a crise diplomática com a Coreia do Norte, que avança no seu programa nuclear para ameaçar, sobretudo, os Estados Unidos. Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, fez um prognóstico negativo para a reunião, dizendo a repórteres que as discordâncias e os conflitos estão no seu nível mais alto desde a Guerra Fria, enquanto a cooperação entre nações torna-se mais difícil em um mundo cada vez mais interdependente.

Antes da abertura oficial pelo presidente Temer, discursou o secretário-geral da ONU, o português Antonio Guterres. Ele fez um apelo por cooperação internacional para encontrar soluções políticas aos conflitos pelo mundo — incluindo em Síria, Iêmen e Sudão do Sul — como estratégia para acabar com o terrorismo. E também, alertou que a retórica agressiva na crise com a Coreia do Norte pode levar a mal-entendidos fatais, em mais um pedido de solução política para as tensões.

— Milhões de pessoas vivem sob a sombra gerada pelos provocativos testes nucleares e de mísseis na República Popular Democrática da Coreia (RPDC) — disse Guterres, que é ex-premier de Portugal.

Além disso, direcionou um pedido às autoridades de Mianmar, onde os muçulmanos rohingyas sofrem uma grave crise humanitária, para que tomem ações para proteger esta minoria étnica. Desde 25 de agosto, 400 mil pessoas cruzaram a fronteira para Bangladesh, na fuga da violência das operações contra rebeldes realizadas pelo Exército birmanês. Na su declaração, Guterres pediu que Mianmar ponha fim às operações militares e permita o acesso da ONU à região, além de reconhecer o direito dos refugiados de retornar a salvo para o estado de Rakain.

Em seguida, Temer fez um pedido pra que as potências nucleares comprometam-se com o desarmamento. E condenou com veemencia os testes nucleares da Coreia do Norte:
— É urgente definir encaminhamento pacífico para a situação, cujas consequências sao imponderáveis — disse o presidente do Brasil, antes de fazer apelos para soluções também para os conflitos entre palestinos e israelenses e também para a guerra civil síria.

O presidente também falou sobre a situação na Venezuela, defendendo a postura brasileira no Mercosul, enquanto o bloco pressiona o governo Maduro a garantir o respeito aos direitos humanos e uma solução política para a sua grave crise política:

— A situação dos direitos humanos na Venezuela, lamentavelmente, continua a deteriorar-se. Estamos do lado do povo venezuelano, a quem nos ligam vínculos fraternais. Já não há mais alternativas à democracia.

Temer não recebeu nenhum aplauso espontâneo durante sua fala. Outros discursos muito aguardados desta terça-feira são os do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.