terça-feira, 19 de setembro de 2017

Turma da Lava Jato desvia dinheiro para Portugal. A propósito, quando Lula será preso?

Clóvis Rossi - Folha de São Paulo


Aviso aos que reclamam de supostos excessos nas prisões preventivas de acusados ou citados nas investigações da Lava Jato: pelo menos três deles solicitaram o chamado "visto gold" que Portugal concede para quem investe no país. Se não é um sinal de que tem a intenção de fugir do Brasil, não sei o que mais poderia sinalizar tal pretensão.

O jornal português "Expresso" obteve informações de que um deles é Otávio Azevedo, ex-presidente da segunda maior empresa de construção do Brasil, a Andrade Gutierrez.

Em 2014, dois anos antes de ter sido condenado a 18 anos, depois de admitir ter cometido uma série de crimes de corrupção, Azevedo comprou um imóvel de € 1,4 milhões (R$ 5,25 milhões) em Lisboa e solicitou um "visto gold".

O "Expresso" informa que um porta-voz de Azevedo disse que o empresário ainda não foi informado sobre a aceitação ou não do visto. Deixou claro, ainda, que Azevedo adquiriu a propriedade em plena conformidade com a lei portuguesa, e que um acordo judicial que assinou com os procuradores brasileiros ajudou a expor "numerosos" outros casos de corrupção.

Segundo nome que apareceu na Lava Jato: Sérgio Lins Andrade, presidente e principal acionista da mesma Andrade Gutierrez. Adquiriu, em 2014, um imóvel em Lisboa por € 665 mil (R$ 2,5 milhões).

Zanone Fraissat/Folhapress
O empresário Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez
O empresário Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez

O jornal cita também Pedro Novis, presidente da Odebrecht entre 2002 e 2009, antes que assumisse Marcelo Odebrecht e depois que saiu Emílio Odebrecht. Novis reapareceu no noticiário a respeito dos trambiques que a construtora confessou no depoimento de Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro.

Novis adquiriu uma propriedade em Lisboa por € 1,7 milhões (R$ 6,3 milhões) em 2014.

O ano dos pedidos de visto e dos investimentos (2014) é exatamente o ano em que a Lava Jato ganha velocidade, o que reforça a inevitável impressão de que os nela envolvidos direta ou indiretamente estavam, primeiro, tirando dinheiro do país e, segundo, preparando terreno para uma eventual fuga.

Os "vistos gold", aliás, permitem, cinco anos depois de concedidos, a obtenção da cidadania, o que, por sua vez, abre as portas para viver e trabalhar em qualquer país da União Europeia.

Desde a sua criação, em 2012, até ao passado mês de julho, Portugal atribuiu 432 autorizações de residência a cidadãos brasileiros, sempre segundo o "Expresso". 

Para obter o visto, a condição é investir pelo menos € 500 mil (R$ 1,8 milhão) em um imóvel. Ou, então, abrir uma empresa que crie pelo menos 10 postos de trabalho.

Vê-se, pois, que a choradeira de que a Lava Jato está atrapalhando a economia, ao visar empresas de grande porte e que empregam muita gente, é equivocada: os executivos/donos de algumas dessas empresas não só são responsáveis por desviar dinheiro dos cofres públicos como candidatam-se a criar empregos em um outro país (no caso, Portugal, que, no entanto, não é o único a ter o esquema de "vistos gold").

O título da reportagem do "Expresso" é bastante eloquente a respeito: "Magnata brasileiro corrupto entre os estrangeiros que obtiveram vistos gold em Portugal".