sábado, 14 de outubro de 2017

Ex-refém do Talibã conta que no cativeiro teve filha assassinada e esposa estuprada

Com O Globo


TORONTO — Logo após desembarcar no Canadá nesta sexta-feira, Joshua Boyle, sequestrado com a família há cinco anos durante uma visita ao Afeganistão, contou que durante o cativeiro militantes da rede Haqqani, afiliada ao Talibã, mataram sua filha e estupraram sua esposa, Caitlan Coleman.
— A estupidez e a maldade do Haqqani em sequestrar um peregrino e sua esposa grávida, que foram ajudar os aldeãos em regiões controladas pelos Talibãs no Afeganistão, só foram eclipsadas pela estupidez e a maldade de autorizarem o assassinato da minha filha, mártir Boyle, por causa da minha repetida recusa de aceitar uma oferta que os criminosos do Haqqani me fizeram — contou Boyle, segundo a AFP.
Lendo um texto diante das câmeras, o ex-refém canadense, com lágrimas nos olhos, relembrou que sua recusa também teve como consequência o “estupro de sua esposa, não como uma ação solitária, mas por um guarda assistido pelo capitão dos guardas e supervisionados pelo comandante do Haqqani Abu Hajar”. Segundo Boyle, o assassinato de sua filha e o estupro de sua mulher aconteceram em 2014, e foram confirmados por uma investigação afegã em 2016.
— Certamente eu não tenho a intenção de permitir que uma brigada brutal de criminosos dite a direção do futuro da minha família — acrescentou, sem detalhar a oferta feita pelos terroristas por ele rejeitada.
Libertados na quarta-feira no Paquistão, Boyle, sua esposa e três filhos do casal nascidos no cativeiro, chegaram na noite de sexta-feira ao aeroporto de Toronto. Agora, o plano é “construir um santuário seguro” que as “três crianças sobreviventes possam chamar de lar”. Oferecer aos filhos, além de educação, um ambiente que os permita “recuperar uma parte da infância que perderam”.
Boyle afirmou ter viajado ao Afeganistão para ajudar “a minoria mais esquecida do mundo”:
— Aqueles aldeões extraordinários que vivem em zonas remotas de territórios controlados pelo Talibã no Afeganistão, onde nenhuma ONG, nenhum funcionário de ação humanitária, nenhum governo jamais conseguiu levar a ajuda necessária — disse.
O canadense Joshua Boyle e a americana Caitlan Coleman se casaram em 2011 e, no ano seguinte, foram sequestrados pelo Talibã durante uma viagem ao Afeganistão. Depois, o casal foi entregue à rede aliada Haqqani, do Paquistão. Eles foram liberados durante uma operação das forças armadas paquistanesas, com informações dos serviços de inteligência dos EUA. No desembarque da família em Toronto, o governo canadense celebrou o “aguardado retorno” da família Boyle.
“Canadá desempenhou papel ativo em todos os níveis no caso do senhor Boyle e continuará apoiando a ele e seus parentes, agora que retornaram ao seu país”, disse o Ministério de Relações Exteriores, em comunicado.