terça-feira, 21 de novembro de 2017

"Chile sem sustos", editorial da Folha de São Paulo

O desempenho um tanto abaixo do esperado do ex-presidente Sebastián Piñera (2010-2014) nas eleições chilenas, realizadas no domingo (19), rendeu alguma surpresa ao primeiro turno.

A ausência de grandes sobressaltos políticos revela-se, com efeito, um dos vários indicadores de como o país tem destoado positivamente de seus vizinhos.

A despeito de ter obtido 36,6% dos votos, em vez dos 45% previstos nas pesquisas, o centro-direitista Piñera ainda é o favorito para suceder Michelle Bachelet, da centro-esquerda. Se isso ocorrer, ambos terão se alternado no cargo desde 2006, quando Bachelet iniciou seu primeiro mandato.

Tal pêndulo no espectro partidário não implicou desvios na condução macroeconômica, tampouco retrocessos na área social ou na conquista de direitos civis. Em caso de retorno de Piñera ao Palácio de La Moneda, não há temor de mudança de rumo.

Sem aflições mais imediatas, a população não demonstrou grande interesse em ir às urnas. Só 46,7% dos 14,3 milhões aptos a votar o fizeram -o menor índice dentre os sete pleitos ocorridos desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

Sob uma ótica mais crítica, pode-se até entender a baixa participação como rechaço a nomes tradicionais, uma vez que a outsider Beatriz Sánchez obteve apenas dois pontos percentuais a menos que o candidato do governismo, o senador Alejandro Guillier.

Entretanto, no mais das vezes, comparecimentos eleitorais pouco expressivos são reflexo de amadurecimento político e um fenômeno razoavelmente comum em nações avançadas, em cuja maioria o voto não é obrigatório -sistema ao qual os chilenos aderiram em 2012.

Durante a campanha, Piñera lançou uma meta de, até 2025, levar seu país ao grupo dos considerados desenvolvidos. Organismos internacionais como ONU, FMI e Banco Mundial usam réguas distintas para essa medição, mas em todas elas o Chile é o mais próximo de alcançar primeiro o objetivo entre os latino-americanos.

Nessa empreitada, não restam dúvidas de que estabilidade e previsibilidade política auxiliam a pavimentar a via chilena.