quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Odebrecht inicia mudança de nome de empresas para atrair novos sócios. Vai sumir com a cor vermelha, que lembra a organização criminosa do Lula

Mário César Carvalho - Folha de São Paulo


Odebrecht decidiu mudar o nome das empresas que integram o grupo para facilitar a entrada de novos sócios nesses negócios e tentar espantar a associação da marca com corrupção.

A primeira empresa a sumir com a marca Odebrecht e a cor vermelha que marcava o logotipo do grupo é a Odebrecht Realizações Imobiliárias, que voltou a chamar OR, com logotipo em cinza esverdeado ladeado por uma seta em laranja.

Em agosto, a Braskem, sociedade da Odebrecht com a Petrobras, já havia tirado o vermelho do seu logo.

Folha revelou em janeiro que o grupo estudava mudar o nome de suas empresas para fugir da fama de ser considerada a empresa mais corrupta do mundo.

A Odebrecht ganhou essa reputação depois de ter concordado em pagar a maior multa do mundo em acordos para encerrar investigações sobre pagamento de propina, de R$ 8,4 bilhões.


PROPINA

Apesar de atuar no mercado privado, a OR também se envolveu com corrupção, de acordo com o acordo de delação da Odebrecht. Executivos contaram que um empreendimento da OR, o Parque da Cidade em São Paulo, pagou propina de R$ 6 milhões para conseguir alvarás. Houve também contribuições para atrair a Previ, fundo de previdência do Banco do Brasil, para a sociedade.

Marcelo Odebrecht disse em seus depoimentos que a entrada do Previ no empreendimento foi acertada com dois deputados do PT (Carlos Zarattini e Cândido Vaccarezza), e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega deu a "aprovação final" –o que todos negam.

O fundo de previdência pagou R$ 800 milhões por uma das torres e o shopping do Parque da Cidade, um complexo que mistura torres comerciais, residencial e um shopping.

Em contrapartida, a Odebrecht doou R$ 27 milhões ao PT, ainda segundo a delação de executivos do grupo.

A OR já teve como sócio a Gávea Investimentos, que comprou 14,5% da empresa em maio de 2010.

O parceiro deixou o negócio no final de 2014, quando a Lava Jato já alcançara a Odebrecht.

A mudança na marca ocorre porque uma avaliação interna aponta que a marca Odebrecht virou tóxica entre investidores.

A OR já foi a maior empresa de construção civil do país, em 2012 e 2013, segundo critérios da revista "Exame". Criada em 2007, a empresa lançou 82 empreendimentos no valor de R$ 20,2 bilhões, contabiliza vendas de R$ 15,9 bilhões e emprega cerca de 3.300 funcionários.

Em 2013, quando a Odebrecht adotou a política de ter uma única marca, a OR passou a ostentar o nome do grupo em letras grandes, sobre a expressão Realizações Imobiliárias, em letras menores.

A política de uma só marca, implantada por Marcelo Odebrecht, acabou-se revelando desastrosa com a descobertas da Lava Jato.

A prática de suborno, que poderia ter ficado contida na CNO e na Odebrecht Óleo e Gás, que atuam em negócios com o governo, contaminou todas as empresas do grupo.

As próximas empresas que devem mudar de nome são a Odebrecht Óleo e Gás e a Odebrecht Agroindustrial, segundo a Folha apurou. Ambas já tiveram sócios, que deixaram o negócio após a Lava Jato.

Não há planos de mexer no nome da holding (Odebrecht S.A.) nem no da Construtora Norberto Odebrecht por uma razão simples: elas não estão atrás de sócios até agora.
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CARA NOVA

Odebrecht muda nome de empresas e tira vermelho das marcas

OR
Novo nome da Odebrecht Realizações Imobiliárias, divisão de empreendimentos imobiliários. Saem a marca Odebrecht e o vermelho

Odebrecht TransPort
Empresa do grupo que atua em infraestrutura como mobilidade urbana, portos, rodovias e aeroportos. Deve ganhar novo nome

Odebrecht Agroindustrial
Atua na produção e na comercialização de etanol e de energia a partir da biomassa e açúcar; deve ter novo nome

Odebrecht Óleo e Gás
Atua na operação de sondas e plataformas de petróleo. Também deve ganhar novo nome e logomarca, sem a cor vermelha

Braskem
Sociedade da Odebrecht com a Petrobras na área de petroquímica, tirou o vermelho do seu logo em agosto passado