domingo, 10 de dezembro de 2017

Danuza Leão: "Ao invés de calar os homens, é preciso estimular as mulheres a exprimir o que sentem, pensam, longe desse universo assexuado que nos apresentam"


O Globo

Meu nome é Danuza, algumas pessoas sabem quem eu sou, outras nunca ouviram falar. 

Já escrevi uns livros, umas coisas em jornais, jurei que nunca mais ia escrever uma só linha, e aqui estou de novo. Antes que alguém me denuncie ao juiz Sérgio Moro, tenho 84 anos (crime hediondo e inafiançável), embora não pareça nem goste — e não se fala mais nisso. Aliás, esse assunto não é da conta de ninguém, mas acho uma crueldade a vida fazer isso comigo. E outro aliás: por que será que a imprensa, no seu afã da verdade, publica a idade das atrizes, sobretudo as bonitas, mas nunca ouvi falar da idade de Tarcísio Meira, José Mayer nem de Francisco Cuoco? E um terceiro aliás: não frequento nenhuma rede social, nem pretendo.

Existem muitas senhoras distintas que não pintam os cabelos, contam histórias para os netos, são perfeitamente felizes e até ajudam nos aniversários, mas não é meu caso. No único festejado na minha infância, aos 5 anos, me tranquei no quarto soluçando, e foi preciso me carregarem à força para fazer uma foto, a única. Me recusei a soprar as velas, o tempo passou, continuei igual, e decidi nunca mais passar por essa tortura. Não me arrependo.

Outro dia fiquei pensando — adoro pensar — e fazendo umas contas — também adoro fazer contas. Somei a idade dos netos e bisnetos, deu um total de 283, e a cada vez que faço a conta o total muda, pois alguém ou fez anos ou nasceu, mas um dia eles crescem, a gente conversa e é uma delícia. Se tivesse ido a todos esses aniversários, estaria morta ou num manicômio, mas quero estar bem viva para ver em que vai dar a Lava-Jato, acompanhar de perto a eleição de 2018 (e pelo menos mais duas) e ver o que vai acontecer com os que estão presos.

Quando eu tinha 20 anos, havia mais liberdade: podia-se pensar tudo, dizer tudo, escrever tudo, fazer tudo. Acabou. Sei de muito assuntos nos quais não posso tocar, e dar opinião (melhor não ter). Tenho o péssimo hábito de falar o que penso, por isso vou tentar ter o maior cuidado para não chocar os corações mais puros. Mas, como ignoro muitas coisas desta vida, vou me dar ao direito de perguntar o que não souber. Por exemplo, o que querem as mulheres, com tantas passeatas, tantas camisetas, reivindicando novas liberdades que eu não consigo entender quais são?

Elas hoje namoram quem querem, sejam homens ou mulheres, têm filhos sem namorado, companheiro ou marido — isso, aliás, há anos — trabalham em plataformas submarinas, comandam um Boeing, são chefs, dirigem filmes, decidem sobre suas vidas do jeito que querem, escolhem a que sexo preferem pertencer, em alguns países árabes podem até dirigir carro, olha que avanço. Só pega é no salário — os homens sempre ganham mais que elas, sem nenhuma razão, e têm também essa mania de mandar no corpo delas, que é delas e pronto. Temos a Procuradoria Geral da República, a presidência do STF, e tivemos como presidente da República aquela que é melhor esquecer. O que mais elas querem?

Ouvi dizer que, se um homem encontrar uma mulher e disser “como você está bonita”, pode ir parar na cadeia. Pois acho que elas deveriam dizer para eles “você está um gato!”, já que não considero que sejamos homens nem mulheres; somos pessoas, e com os mesmos direitos. Sou totalmente favorável a que um homem assovie quando vê uma gostosa, e também a que elas batam palmas quando passa um bonitão de sunga na praia. 

Ao invés de calar os homens, é preciso estimular as mulheres a exprimir o que sentem, pensam, longe desse universo assexuado que nos apresentam.

Eu adoraria ver um bando delas depois da praia tomando chope num botequim, e fazendo fiu fiu quando surgisse um que valesse a pena — e tem cada um! Não devemos ter a cabeça aberta para o novo? Pois seria o começo da volta da alegria ao Rio.