sábado, 9 de dezembro de 2017

"O produtivo braço da Lava-Jato no Rio de Janeiro", editorial de O Globo

Aprimeira denúncia pelo Ministério Público Federal, no Rio, contra políticos com foro privilegiado, dentro da Lava-Jato, consolida o estado como o segundo mais importante polo no combate à corrupção, depois do Paraná, sede da operação.

É acusada a cúpula da Assembleia Legislativa (Alerj) — o presidente e o antecessor, Jorge Picciani e Paulo Melo, bem como Edson Albertassi, todos do PMDB, além de 16 pessoas. 

Os três estão presos preventivamente, por determinação do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), decisão que gerou um choque entre Judiciário e Legislativo, cuja solução pelo Supremo terminou adiada à espera do quórum completo da Corte.

Esta prisão se refere à acusação de recebimento e administração de propinas de empresários de ônibus (Fetranspor), um dos motivos alegados pelo braço fluminense da Lava-Jato para denunciar os deputados estaduais de fazerem parte de “uma poderosa organização criminosa.” Há acusações diversas: como lavagem de dinheiro, corrupção passiva, fora a atuação em quadrilha.

A rigor, a relevância do Rio na geografia da corrupção vem de antes desta denúncia contra os donos da Alerj, porque o próprio alvo central da Lava-Jato, a desmontagem do petrolão, está na Petrobras, cuja base é no Rio.

Há muita quilometragem a se percorrer nas investigações fluminenses contra a corrupção. Cadeia Velha, Ponto Final — desdobramentos da Lava-Jato —, Calicute, Quinto do Ouro são operações deflagradas no Rio, entre outras, com o mérito de terem começado a desvendar aquilo que já se evidenciava: a “poderosa organização criminosa” tem ramificações e reflete uma cultura de corrupção que se enraizou no Estado.

É o que explica o fato de, até há pouco, estarem presos, na mesma cadeia, três ex-governadores: Sérgio Cabral, Anthony Garotinho e Rosinha. Depois, chegou a trinca que controla a Alerj. Antes, foram detidos cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Não se tem notícia de um arrastão anticorrupção tão eclético e com pessoas tão ilustres. Bom sinal das instituições fluminenses.

A filial da Lava-Jato é que prendeu Sérgio Cabral, também já condenado em processos instaurados a partir da operação. A situação do ex-governador, na fase de tomada de depoimentos em um dos casos — propinas recebidas de fornecedores de alimentação a escolas, a hospitais e a penitenciárias —, se agrava perante o juiz Marcelo Bretas. Pois o que o MP levantara começa a ser confirmado em delações premiadas.

Há uma teia de conexões e parece que a Alerj está no centro desses esquemas ou da maioria deles. Não foi, por certo, mera coincidência que, há tempos, o jovem deputado Sérgio Cabral conviveu com Picciani e Paulo Melo na Assembleia

O núcleo do poder da corrupção fluminense parece começar a ser desbaratado. Também não se pode esquecer que Eduardo Cunha, ainda inquilino da carceragem de Curitiba, iniciou-se na política no estado.

O avanço do enfrentamento da corrupção no Rio de Janeiro dá especial relevância às eleições de 2018 no estado. Porque abre-se espaço para o surgimento de novas forças.