sábado, 9 de dezembro de 2017

"Parlamentares, façam a sua parte!", por Carlos José Marques

IstoE


O Brasil odeia o Congresso, visto como antro de ladrões, acomodados e aproveitadores regidos a altos salários e mordomias a perder de vista. A alegação corrente de um aparato demasiadamente custoso e ineficaz pesa como nunca sobre aquela casa parlamentar. Uma pesquisa na semana passada mostrou que a imensa maioria rejeita o trabalho feito ali. Para 60% dos entrevistados, o desempenho parlamentar foi considerado ruim ou péssimo. Irrisórios 5% consideraram a atuação aceitável.
Nem cobrador de impostos é tão impopular. O palhaço e deputado Tiririca, do alto da maior votação alcançada no pleito de 2014, foi à tribuna para dizer que iria desistir de reeleição. Confessou sua frustração com a atividade e, em especial, com a prática corrente entre os seus pares. Tiririca expôs o que está na mente de todo mundo. Muita conversa, muito conchavo e pouco resultado prático são a tônica nos gabinetes, corredores e nas sessões que nada resolvem. A repulsa genuína de Tiririca e de praticamente toda a Nação aborda, é claro, a falta de empenho dos congressistas para levar adiante, votar e aprovar projetos de interesse nacional. A reforma da Previdência, por exemplo, está entre eles e arrasta-se como uma pauta maldita. Como é possível adiar algo tão imprescindível para a sobrevivência do sistema? Alegam os senhores senadores e deputados que esse seria um tema por demais intragável às vésperas de eleição. Tentam mais uma vez, como fizeram sempre, iludir a massa com promessas populistas. Tome-se o comportamento nada dignificante do ex-presidente e líder da tropa petista, Lula, para quem a Previdência não passa de “porcaria”, como disse. Tal padrão de irresponsabilidade está vingando nas rodas de políticos.
Prevaricam com o futuro do País. Os recursos destinados a áreas vitais como educação e saúde estão por um fio por conta da necessidade de se manter as aposentadorias em dia. Logo, logo, nem esse esforço será suficiente. Ultrajante e indecente é a resistência dos congressistas em cumprir com o seu dever. Não passa pela cabeça de mais ninguém com um pingo de juízo a ideia de que a reforma da Previdência possa ser adiada. Essa bomba nuclear via conta dos aposentados foi armada há anos e agora está prestes a estourar. Desarmá-la é a decisão sensata a ser tomada no parlamento. E, ao contrário do que possa ser dito, ela não macula a reputação dos senhores candidatos. Sinaliza, na verdade, um engajamento no esforço conjunto dos brasileiros para a rápida recuperação da economia.
Responsabilidade com as contas públicas não tira voto de ninguém. São necessárias medidas austeras para salvaguardar o direito de todos. O grande trunfo da reforma da Previdência está justamente no combate aos privilégios. Igualar a conta dos servidores públicos e privados já será, por si só, um imenso avanço. Acochambrar o projeto, como tentou o PSDB para posar de bonzinho, é retrocesso punido inclusive com a desconfiança do mercado e de investidores. 
Na semana passada o dólar chegou a ter uma valorização espetacular devido ao temor de que a reforma não passasse. É isso que almejam os parlamentares? Um País economicamente instável e arriscado aos olhos do mundo? Eis um objetivo que só atende aos aventureiros de plantão e aos pseudos salvadores da pátria, vendedores de mentiras em proveito próprio.
Politicagem criminosa não cabe mais no assunto Previdência. Não está mais em jogo ser contra ou a favor do governo, ser aliado dessa ou daquela patota. O tema vai além de uma agenda meramente ideológica. A operação segue para a inviabilidade caso as mudanças não ocorram. A conta definitivamente não fecha.
O presidente Temer, de sua parte, vem tentando o possível, no limite da negociação, para fazer vingar o projeto. Mas como disse, a questão cabe e interessa a todos os brasileiros. Se a maioria não se importa em travar a Previdência, eliminando as aposentadorias no médio prazo – porque é o que vai acontecer caso nada seja feito – paciência. O bom senso precisa prevalecer na discussão e os parlamentares, sem populismos baratos, realizarem a sua parte votando o que é devido. É o papel que lhes cabe. Vai da consciência de cada um exercê-lo. Mais cedo ou mais tarde, os brasileiros vão cobrar esse compromisso.