sábado, 9 de dezembro de 2017

Sem investimentos, Brasil fica para trás em inteligência artificial


Consumidor experimenta óculos de realidade virtual. Crédito: Marcos Alves/6-6-2017 - Marcos Alves / Agência O


Bruno Rosa - O Globo


Mundo caminha rapidamente em inovações tecnológicas como internet das coisas e realidade virtual


MAUI (HAVAÍ, EUA) - A redução dos investimentos em telecomunicações nos últimos três anos tem colocado o Brasil cada vez mais distante das inovações que mais avançam no mundo, como carros conectados, experiências de realidade virtual e inteligência artificial. Quanto maior a velocidade da internet móvel, mais essas soluções ganham espaço no dia a dia dos consumidores, abrindo a possibilidade de geração de novas receitas.

É por isso que todo o mundo decidiu acelerar o desenvolvimento das redes de altíssima velocidade de internet. Em conferências como a promovida pela Qualcomm nesta semana nos Estados Unidos, a sensação é que até mesmo o 4G ficou para trás. Por isso, empresas de telefonia, tecnologia, produtores de conteúdo e montadoras não falam mais em megabite por segundo (Mb/s) como medida de velocidade de internet móvel. Para eles, tudo já começa a ser pensado em gigabite por segundo (Gb/s). 1 gigabite corresponde a mil megabites. No Brasil, a velocidade média no celular oscila entre 15 Mb/s e 29 Mb/s.

PAÍSES RICOS E CHINA VÃO INVESTIR US$ 200 BI

EUA, China, Japão, Alemanha, Coreia do Sul, Reino Unido e França já preparam investimentos de US$ 200 bilhões por ano para a construção de redes capazes de transmitir dados de internet na nova velocidade.

No Brasil, este novo mundo ainda não chegou. Há 471 cidades brasileiras que não são sequer atendidas pela rede 3G de internet móvel, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e da consultoria Teleco. Nesses locais, o celular não tem conexão móvel. Para a quarta geração (4G) da telefonia, a lista é bem maior: faltam 2.207 municípios.

CARRO CONECTADO SEM TEMPO REAL A BORDO

Dados da Telebrasil mostram que os investimentos no Brasil passaram de R$ 31,7 bilhões em 2014 para R$ 30,1 bilhões (2015). Em 2016, caíram para R$ 28,1 bilhões. Neste ano, a expectativa do setor é de uma nova queda ou, na melhor das hipóteses, um empate em relação ao ano passado. Essa falta de fôlego faz com que o brasileiro tenha apenas as experiências básicas desse novo mundo de internet das coisas. Um exemplo é o carro conectado. Em vez de ter uma solução de internet a bordo com conexão em tempo real, o cliente tem que se contentar em usar um aplicativo via celular que permite trancar as portas ou ligar o ar-condicionado.

Entre as experiências de realidade virtual, a falta de uma rede robusta de telecomunicações impede a transmissão de imagem em ultradefinição (o chamado 4K). Como ter uma sensação de imersão assitindo a um jogo sem uma resolução perfeita? Por isso, a falta de um crescimento sólido nos investimentos no setor de telecomunicações — agravado pela crise na Oi, dona da maior rede de telecomunicações do país, e pelo ambiente de recessão econômica — vem limitando o aparecimento de inovações no Brasil.
*Bruno Rosa viajou a convite da Qualcomm