sábado, 20 de janeiro de 2018

"O risco da complacência", editorial da Folha de São Paulo

Rahel Patrasso/Xinhua
(180110) -- SAO PAULO, enero 10, 2018 (Xinhua) -- Una persona observa frutas en Sao Paulo, Brasil, el 10 de enero de 2018. El Banco Central de Brasil (BCB) explicó el miércoles al presidente del Consejo Monetario Nacional (CMN), Henrique Meirelles, que en 2017 la inflación se redujo a 2.95 por ciento debido a la fuerte caída en los precios de los alimentos. La mañana del miércoles, el Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE) informó que el índice de inflación concluyó el año en 2.95 por ciento, por debajo de la meta oficial anual, que era de 4.5 por ciento con 1.5 punto porcentual de tolerancia. (Xinhua/Rahel Patrasso) (rp) (da) (fnc)
Mulher faz compras em São Paulo


De acordo com os últimos dados do Banco Central, o PIB brasileiro pode ter crescido 2,8% em novembro de 2017, frente ao mesmo mês de 2016. Todos os principais setores da economia encontram-se em expansão.

A produção da indústria, no mesmo mês, ficou 2,4% acima do registrado no ano anterior. O segmento de bens de capital (máquinas para a produção) teve alta próxima a 12,3% em igual período -e os insumos da construção civil, setor mais atingido pela recessão, já atingem ritmo positivo.

É no emprego e no consumo, todavia, que se verificam as surpresas mais expressivas. A queda acentuada da inflação permitiu que a renda real das famílias crescesse 2,6% na média de três meses até novembro, em relação ao mesmo intervalo de 2016.

Tal dinâmica facilitou a estabilização do mercado de trabalho. O desemprego começou a cair até antes do que analistas previam. Depois de ter chegado a um recorde de 13,7%, a desocupação terminou 2017 próxima a 12%, percentual elevado mas com vetor declinante.


A pesquisa domiciliar do IBGE apurou criação de 1,8 milhão de novos postos de trabalho no ano passado, até novembro. Apesar de a quase totalidade das vagas ser informal, é um indicador positivo.

O cenário para os próximos meses afigura-se favorável. Com juros baixos e dinâmica favorável na economia internacional, o país pode crescer perto de 3% neste 2018, sem temor inflacionário.

O risco é a complacência. Alguns políticos parecem perder o senso de urgência do ajuste das finanças ao fazer leitura equivocada da calmaria que se seguiu ao último rebaixamento da nota de crédito do país -e ao observar o bom comportamento do dólar e dos juros, apesar do adiamento da votação da reforma da Previdência.

É uma visão perigosa. A volta do crescimento ajuda a arrecadação e dá fôlego de curto prazo ao governo, mas a situação estrutural continua dramática. O ajuste fiscal ainda é uma miragem que precisa se transformar em realidade.

O perigo não passou. Se a melhora da economia for usada como desculpa para afrouxar as contas e voltar ao populismo, ela será curta. Não é hora de relaxamento.