terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Com o decreto de intervenção federal, Rio vive um vácuo de poder

Deslocamento de tropas militares na Linha Vemelha, no sentido Zona Sul Foto: Gustavo Azeredo / Agência O Globo

Deslocamento de tropas militares na Linha Vemelha, no sentido Zona Sul - Gustavo Azeredo / Agência O Globo
Rafael Soares, O Globo



Com o decreto de intervenção federal, o clima é de incerteza entre policiais civis e militares. Com a exoneração do secretário Roberto Sá, publicada ontem, e sem uma definição se o comandante da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, e o chefe da Polícia Civil, delegado Carlos Leba, permanecerão em seus cargos, nenhuma orientação foi passada a comandantes de batalhões ou delegados titulares sobre as diretrizes a seguir até que as primeiras decisões do interventor, general Walter Braga Netto, sejam anunciadas.


Com essa espécie de vácuo no comando, alguns delegados deixaram em suspenso investigações próximas de serem finalizadas. Outros agentes optaram por prosseguir com os inquéritos, e há operações previstas para os próximos dias. Registros de ocorrência continuam sendo feitos, tanto nas unidades distritais quanto nas especializadas. A Polinter, divisão de capturas da Polícia Civil, continua cumprindo mandados de prisão.

— Não houve qualquer comunicação da cúpula com os delegados, nenhuma determinação. Nada. Cada um está agindo como quer. Não vou fazer operações até essa situação ser definida — contou um delegado, sob a condição de anonimato.


SUBSECRETÁRIO RESPONDE INTERINAMENTE

O interventor, general Walter Braga Netto, ainda não escolheu o nome que vai substituir Roberto Sá à frente da Secretaria de Segurança. Enquanto isso, quem responderá pela pasta interinamente é o subsecretário de Assuntos Estratégicos, Roberto Alzir. Segundo a assessoria de comunicação do órgão, “todos os subsecretários continuam respondendo por suas atribuições, para que não haja qualquer prejuízo à prestação de serviço por parte das instituições e atendimento às demandas da população”.

Na PM, por enquanto, os batalhões mantêm sua rotina normal. Ontem, homens do 18º BPM (Jacarepaguá) prenderam, durante operação na Covanca, na Zona Oeste, dois traficantes que estariam participando da disputa entre tráfico e milícia por territórios na Praça Seca. Com os criminosos, foram apreendidos um rádio transmissor, duas motos roubadas e grande quantidade de drogas. No domingo, agentes do 9º BPM (Rocha Miranda), durante uma operação no Jorge Turco, na Zona Norte, balearam Vitor Roberto da Silva Leite, conhecido como “Da Mamãe”, apontado como chefe do tráfico da favela. O traficante foi levado ao Hospital Estadual Carlos Chagas, onde morreu. Com ele, os policiais apreenderam um fuzil e uma granada.

AÇÃO EMPREGA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM

No início da noite de ontem, forças estaduais e federais fizeram uma operação integrada. A ação, segundo a Secretaria de Segurança, faz parte das operações decorrentes do decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), assinado em julho do ano passado, que autorizou o uso de cooperação de militares no Estado do Rio, e não tem qualquer ligação com a intervenção federal. A ação contou com homens das Forças Armadas, das polícias Civil e Militar, das Polícias Rodoviárias Federal e Estadual e da Força Nacional, e foi realizada nas divisas do estado e em áreas estratégicas estratégicas da Região Metropolitana. Segundo fontes na secretaria, a ação já estava prevista antes do decreto.

O objetivo da ação é fazer bloqueios nas vias de acesso ao estado, como a BR-101, nas divisas a norte e sul do estado, além de trechos na região de São Gonçalo (comunidades do Salgueiro e Jardim Catarina); na BR-116, nas divisas a nordeste e sul do Estado, além de trechos da Baixada Fluminense; e na BR-040, nas divisas a oeste do estado. Além desses locais, a tropa realiza patrulhamento ao longo do Arco Metropolitano. Três mil militares participam da operação, com apoio de veículos blindados e aeronaves.