sexta-feira, 16 de março de 2018

'Decisão não teve nada de campeão nacional', diz diretora do BNDES

Eliane Lustosa, diretora do BNDES Foto: Nilani Goettems / Agência O Globo
Eliane Lustosa, diretora do BNDES - Nilani Goettems / Agência O Globo
Alexandre Rodrigues, O Globo


O BNDES terá, por meio de sua subsidiária de participações, BNDESPar, 11% da empresa resultante da aquisição da Fibria pela Suzano, que se tornará uma gigante do setor de celulose concentrando quase 50% do mercado mundial, disse em entrevista ao GLOBO Eliane Lustosa, diretora do banco de fomento, nesta sexta-feira. O BNDES, que já detém 29% da Fibria e quase 7% da Suzano, receberá ações da Suzano e cerca de R$ 8,5 bilhões por sua participação na Fibria. O outro sócio majoritário da Fibria, a Votorantim, também receberá em dinheiro pela venda de suas ações, mas permanecerá no negócio com uma participação minoritária de 5%. A família Feffer, controladora da Suzano, deverá seguir nessa posição com 45,5% da nova empresa, caso os órgãos de controle antitruste, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aprovem a operação, anunciada pelas empresas e pelo BNDES na madrugada desta sexta-feira.

A diretora Eliane Lustosa, que representou a BNDESPar na negociação, estima que a aprovação para concretizar a aquisição pode levar até um ano e meio. Só então o dinheiro entra no caixa do banco. Segundo ela, as sinergias resultantes da união entre Suzano e Fibria podem chegar a R$ 10 bilhões. Eliane afirma ainda que proposta da Paper Excelence não foi avaliada por sua inconsistência, não por uma preferência do BNDES de manter o controle nacional da Fibria, atualmente a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo.

— A decisão não teve nada de campeão nacional, mas acabou sendo sem ter isso como premissa. Foi uma decisão de mercado, que também será positiva para o Brasil com uma empresa resultante ainda mais forte na competição internacional, com significativos ganhos de sinergia — disse a diretora do BNDES. — A proposta da Suzano casou totalmente com o interesse do BNDES. Nós já estávamos há muito tempo na empresa e vimos que cumprimos nosso papel. Em nossa avaliação, olhando o preço de mercado da Fibria hoje, vimos que estava melhor do que a perspectiva de valorização. Era uma janela de oportunidade para a BNDESPar e para a Votorantim que precisávamos aproveitar rápido. Conseguimos montar uma operação de venda com preço acima do de mercado. É o momento certo para desinvestir e garantir o luro do BNDES com esse investimento.

Perguntada pelo GLOBO se houve ingerência do governo federal para que o BNDES decidisse pela Suzano para preservar o capital nacional, Eliane negou:

— Não houve qualquer interferência. Toda a decisão foi tomada pela BNDESPar em conjunto com a Votorantim.