quinta-feira, 15 de março de 2018

"Segurança nascida no campo", editorial do Estadão

Com exportação de US$ 99,01 bilhões, o agronegócio foi responsável por 44,1% do total faturado pelo Brasil, no ano passado, no comércio exterior de mercadorias. Com a perspectiva de colher neste ano a segunda maior safra de cereais e oleaginosas de todos os tempos, o País continuará contando com a produção rural como fonte de receita cambial e como garantia de abastecimento tranquilo do mercado interno. A safra de grãos da temporada 2017-2018 está agora estimada em 226,04 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse volume é 4,9% menor que o do ano anterior, por enquanto um recorde, mas é o segundo maior. Outro detalhe positivo: com o novo levantamento, recém-divulgado, o total estimado superou por 466,3 mil toneladas o número obtido na pesquisa do mês anterior. A colheita de verão tem sido melhor do que se previa.
Como tem ocorrido há muito tempo, a soja é o produto colhido em maior volume, 113,02 milhões de toneladas, com redução de 0,9% em relação à temporada anterior. A seca na Argentina tem sustentado bons preços para a soja no mercado internacional. Tudo indica, por enquanto, uma boa remuneração para o produtor brasileiro, também favorecido até agora pela valorização do dólar. A Conab estima para este ano exportação de 67,5 milhões de toneladas, volume pouco inferior ao de 2017 (68,15 milhões de toneladas).
A safra de milho, a segunda mais volumosa, está estimada em 87,28 milhões de toneladas, somadas a colheita de verão e a do meio do ano. O total produzido será 10,8% inferior ao do ano passado, se os cálculos estiverem corretos, mas as condições de suprimento pouco serão alteradas, graças ao elevado estoque disponível.
A produção de carne, principalmente suína e de aves, é um dos principais empregos do milho e da soja. O Brasil tem sido há muitos anos um dos principais fornecedores mundiais desses alimentos. Nos 12 meses até janeiro, as carnes foram o segundo item na pauta de exportação do agronegócio, com receita de US$ 15,45 bilhões, abaixo apenas do faturamento proporcionado pelo complexo soja, de US$ 31,79 bilhões. As vendas de carne de frango renderam US$ 7,06 bilhões. Episódios como o da Carne Fraca, repetido há poucos dias em frigoríficos no Paraná, são uma bênção para os competidores do Brasil, especialmente os da União Europeia, sempre vigilantes à espera de qualquer tropeço dos brasileiros. Essa é mais uma forte razão – além da mais óbvia, que é a proteção do consumidor – para o reforço e o aperfeiçoamento dos controles sob responsabilidade do Ministério da Agricultura.
Outras produções, como as de arroz e feijão, também devem ser menores que as da temporada anterior, mas sem consequências graves para o abastecimento. De modo geral, a contribuição dos preços dos alimentos para o controle da inflação deverá ser menor que no ano passado, mas, ainda assim, a alta dos preços ao consumidor, segundo as projeções correntes no mercado, continuará moderada e compatível com a meta oficial, de 4,5%.
A contribuição total do agronegócio para o crescimento econômico depende também de outras produções, como as de café, cacau e de outras culturas permanentes e semipermanentes e, é claro, da criação de animais. Neste ano, a contribuição geral do setor para a formação do Produto Interno Bruto (PIB) será provavelmente menor que a de 2017. Mas, ainda assim, o agronegócio deve continuar em destaque, no País, como exemplo de eficiência e de competitividade.
Nos 12 meses até fevereiro, o setor exportou US$ 96,61 bilhões, 13,6% mais que no período imediatamente anterior, e acumulou um saldo comercial de US$ 82,51 bilhões. Por seu desempenho no comércio externo, o agronegócio tem contribuído de forma muito importante para a segurança econômica do País. Um balanço de pagamentos saudável e um bom volume de reservas em moedas fortes são fatores de resistência em caso de choque externo. Essa garantia é especialmente relevante quando se enfrentam graves problemas de finanças públicas.