quinta-feira, 24 de maio de 2018

Acordo é bom para Petrobras e ruim para as contas públicas, avaliam analistas do mercado financeiro

Rennan Setti, O Globo


acordo anunciado pelo governo para encerrar a greve dos caminhoneiros nesta quinta-feira é uma boa notícia para a Petrobras, mas uma péssima para as contas públicas, avaliam analistas do mercado financeiro. De acordo com eles, se a decisão evita a violação da política de preços que a Petrobras vinha praticando, ela terá que ser paga via despesa extraordinária por um governo fiscalmente fragilizado. No caso da estatal, cujas ações despencaram mais de 14% na Bolsa hoje, os investidores continuarão atentos, porém, ao desempenho de sua governança após essa crise.

- Para a Petrobras, o acordo é positivo, porque não altera a política de preços da companhia. Se isso acontecesse, o coração do seu negócio seria afetado. Ao congelar o diesel por 15 dias, o Pedro Parente fez a parte dele e tudo o que o podia para que não houvesse essa mudança. Teve que pagar R$ 350 milhões para proteger. Agora, para o governo, vai complicar a parte fiscal cedo ou tarde. Não ficou claro de onde sai esse dinheiro, e me preocupa a visão das agências de risco sobre isso - avaliou Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial Research.

Embora positivo, ele ponderou que os investidores continuarão atentos aos próximos passos:

- A preocupação de possível intervenção na estatal pelo governo não foi completamente sanada. De acordo Figueredo, o fato de a Petrobras passar a receber mensalmente o reembolso pelo governo, a princípio, não é significativo para o caixa da Petrobras.

Após sua ação ordinária (com voto) cair 14,55% na B3 (antiga Bovespa) nesta quinta-feira, a Petrobras perdeu R$ 47,26 bilhões em capitalização de mercado na Bolsa. O valor equivale a mais que uma Cielo. Foi a maior perda já registrada pela estatal em apenas um pregão em sua história. Assim, a Petrobras terminou valendo R$ 285,1 bilhões, perdendo o posto de companhia mais valiosa da América Latina que havia recuperado no último dia 10 após seis anos. A Ambev reassumiu o posto, encerrando com capitalização de R$ 319,6 bilhões.

Para Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos, os papéis da Petrobras tendem a ter uma correção de preços no pregão dessa sexta-feira, mas ainda terão um caminho longo até recuperar a capitalização que foi perdida.

- A ação tende a passar por uma correção positiva, porque o anúncio não maculou a geração de caixa da empresa, o protegeu. E a Petrobras cumpriu o que havia prometido, de ser ressarcida pelo governo em caso de subsídios. Então, os investidores vão refazer as contas sobre quanto vale a companhia. Mas não há razão para ficar muito animado. As pessoas ficarão com um pé atrás, sobretudo o investidor estrangeiro, que é bastante sensível a esse tipo de mudança. Do ponto de vista da governança, nada do que aconteceu nos últimos dias é bom - explicou.

Em nota, a Petrobras afirmou que considera o acordo entre o governo e os representantes dos caminhoneiros "altamente positivo e um ganho inquestionável para o país".

"Do ponto de vista da empresa, o ressarcimento proposto pela União preserva integralmente a política de preços da companhia ao mesmo tempo em que viabiliza maior previsibilidade para os consumidores", disse a companhia.